Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sexta-feira, 25 de junho de 2010

História

Eu nunca fui afeito a tecnologia, considero-me um “intecnológico” inveterado, e olha que não é por falta de conhecimento, mas uma opção. Lembro-me de ter sido apresentado a uma máquina de datilografar Remington, em 1972, um monstro para a época, e, por imposição do meu pai, sempre severo na educação dos filhos, fui obrigado a aprender usá-la, apesar dos meus minguados oito anos. Aprendi, mas usá-la... Fui engolido pela máquina. Anos mais tarde ganhei uma Olivetti compacta laranja, e para desespero do meu pai, eu preferi o bom e usável papel e lápis.
Anos sobre anos depois, eu comprei um celular com a intenção de usar o editor de texto para escrever do que o próprio telefone para telefonar, mas quase sempre as mãos, ao digitar, não acompanhavam o pensamento, então, o bom e usável papel e, agora, caneta permaneceram para o celular ter um uso mais apropriado, como despertador e relógio. Como o avanço tecnológico, o celular adquiriu tantas utilidades que usá-lo para receber e fazer chamadas é raro.
Era época de haver e ter, os estudos e o trabalho passaram a ser o foco principal; eu, precisando maximizar o tempo, passei a escrever no transporte público que me levava de casa para o trabalho e deste para a escola. Com o passar do tempo, eu adquiri uma técnica em escrever no ônibus em movimento, mantendo-a até hoje. Contudo, houve época que pensei comprar um minigravador na intenção de gravar as minhas histórias e depois transpô-las para o papel. Desisti da ideia, pois, certamente, iam querer me pôr em camisa de força, apesar de São Paulo ser uma cidade de, e para, loucos. Mormente se literatura e loucura, além de rima, no fim das contas, habitarem o mesmo teto, ou seja, a cabeça de um escritor. Por isso, eu permaneci, até a data de hoje, com o bom e usável papel e caneta, rascunhando as minhas histórias.
Isso dito, eu tenho como hábito acumular vários pedaços de papeis com as minhas histórias, e talmente as bordadeiras quando obram colchas de fuxico, eu vou costurando-as até ganharem formato definitivo após várias revisões.
Devido à insistência de alguns amigos que vêem valor literário nos meus escritos, incentivando-me a escrever e publicar um livro – escrever possa ser conseguível, publicar cabe aos amigos moverem mundos e fundos, mais fundos porque mundos se movem por si só -, eu estou, se não me engano, na minha quarta tentativa de escrever um.
Como havia dito que loucura e literatura, além de rima, habitam o mesmo teto, eu, na minha loucura literária, quando escrevo parto sempre do final para chegar ao início e alcançar o meio. Neruda já havia dito que escrever é fácil, inicia-se com uma palavra e termina com um ponto, no meio, enche de ideais. Portanto, com a história com fim, meio e início pronta, como a escrevo em retalhos de papel, eu fui costurá-la; para minha surpresa, eu tinha perdido o meio da história, ou, como muitos gostam de dizer, o fio da meada. A personagem da história, que de louco não tem nada, vive me perturbando para eu dar um fim na sua história, ou seja, reescrever o meio, pois ele sabe que é devido o quê lá está escrito, a razão do seu fim, apesar de ter tido um início promissor.
Agora eu vivo um dilema, não sei se mato a personagem por não agüentar a tortura da cobrança, e, consequentemente, dou fim a mais uma tentativa de escrever um livro, ou, dou ao livro outro fim, melhor dizendo, dou a história outro fim reinventando um novo começo, nem que para isso seja necessário contar a mesma história, e entre o fim e o começo encher de ideias.

* Este texto é dedicado ao meu querido Amigo Osvaldo do blog  http://mautristeefeio.blogspot.com por tanto me incentivar a escrever um livro e por achar valor literário no que eu escrevo.

14 comentários:

  1. Escreva, deixa fluir e receba os aplusos.
    Abraços.

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  2. Oi Eder! Hoje vou começar do começo! Eu mesma fiz o curso de datilografia - indispensável no currículo na década de 90! Ainda hoje uso o que aprendi no teclado do computador. Minhas filhas, que dedilham apenas com os indicadores, ficam fascinadas.
    Quanto aos seus amigos, assino embaixo. Você tem tantas histórias guardadas que um livro é mais do que bem vindo, é necessário.
    Pobre personagem! talvez a história dele tenha mesmo sido alterada - não somos assim em nossas vidas? Quem sabe um novo começo seja o que ele precisa. E o meio, esse você recheia com muito bom gosto!
    Um beijo em você e na linda família, Deia.

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  3. Não gostaria de estar em sua pele, apesar de que acho que todo escritor passa por isso. Acho que matar o personagem é dificil, mas sei que a perseguição dele é implacável...rs. Tente relaxar, passear e dqui um tempo volte ao livro, converse com o personagem, explique que está de ferias, etc. Sabe quando a gente não acha o erro de uma conta? O jeito é dar um tempinho e voltar, e ai pimba! lá está ele. A gente só tinha fixado o erro.Sei lá...não sei nada de escrever livros.
    beijos e boa sorte pois talento tem de sobra

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  4. Caro Eder;

    Ainda bem que a caneta, o lápis e o papel se sobrepuseram a todas as tecnologias existentes...
    Foi assim e assim sempre será que nascem os grandes escritores.
    Quanto à estória vamos lá reencontrar o fio da meada para que o "tricot" saia perfeito e disso, eu conhecendo as capacidades do Eder, sei que sáirá daí um verdadeiro best-seller!...

    Um abraço caro amigo Eder.
    Osvaldo

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  5. Você não é só um excelente escritor, mas também um generoso leitor, meu caro Eder. Eu ainda estou aprendendo a me libertar de algumas amarras, dizer as coisas que quero dizer, fazer as ponderações que julgo necessárias... É um intenso aprendizado. Libertar-se das próprias amarras não é tarefa fácil. Mas insisto! Persisto!

    E também sou "chegado" a um papel e caneta, com rabiscos que nem mesmo eu dou conta de ler, após a conclusão do pensamento. É uma loucura. Fico, às vezes, parado ante a palavra escrita, sem lembrar o que foi pensado e qual palavra escrevi. Pode acreditar! É isso mesmo!

    E não sou contra o gravador. Muito ao contrário. Tenho o meu, que carrego sempre no carro. É que viajo muito e sozinho no carro. Ali, em estradas sinuosas, os pensamentos povoam. E costuro um e outro. Ao final, já não sei mais onde está o começo, onde é o meio e se o fim coaduna-se à idéia que restou. Por isso comprei um gravador e, sempre que posso, vou por aí, feito louco, conversando sozinho, gravando coisas absurdas. Catarse das angústias (rsrs).

    Por estas e outras é que aprecio a leitura nos blogs. Penso que a leitura vai além do prazer, além da beleza das palavras e idéias anunciadas. Extrapola à alma de quem escreve. Há um pouco mais do autor, um pouco mais de suas crenças, um pouco mais de sua exuberância. E, para aprender, preciso beber da exuberância dos outros.

    Então, meu caro, atenda aos reclames do personagem que insiste em tornar-se conhecido. Permita que ele avise ao mundo os dons do seu criador. E deixe que ele alcance, a cada um, naquilo que a voz der conta de se fazer acolher.

    Um grande e fraterno abraço. E perdoe-me por estender demais. É puro entusiasmo provocado pela percepção virtual de que se trata de um grande ser humano.

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  6. Eder muito obrigada pela sua visita e por seu comentário.
    Chego aqui e me deparo com o seu texto. Ai!
    Bom vou dar minha opinião: acho que sua personagem merece sua história. Com início, meio ou fim reescritosm aí você é quem pode melhor definir, mas não a deixe morrer. Faça no seu tempo e deixe que ela cobre, uma hora a história se revela.
    Um beijo e bom domingo

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  7. Cabra, eu sou mais um a gostar dos teus textos. E ultimamente, eles têm me atingido os órgãos emocionais. Tenho duas máquinas de escrever, uma Facit elétrica e imensa, outra Olivetti portátil. Não pude trazê-las para João Pessoa. Mas são relíquias para mim. Odeio escrever sobre um papel, com um lápis principalmente. Sou meio robô nesse quesito. Mas o importante não é o charme da coisa, e sim o sumo.

    Caso publique teu livro, vou querer um.
    Continuemos, bucaneiro.

    Abraço forte.

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  8. Amigos assim nos fazem tão bem...

    Também sou do tempo
    da saudosa máquina de escrever!

    Um abraço,
    doce de lira

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  9. Se matar o personagem, ele volta nele ou noutro, qdo houver de ser.. se deixar viver, ele vive ou se mata, e dá história, dá o que dizer.. qdo vem de vc, menino, eu nem sei o que não dizer rs... Beijokas, meu querido.. pra sempre, sua fã!!! No aguardo do livro ;)

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  10. Eder,

    É com grande alegria que viemos te convidar, mais uma vez, a participar conosco da blogagem coletiva do mês de Junho, cujo tema é

    "O que você faria se, por um dia, se tornasse alguém do sexo oposto?"

    A blogagem tem início hoje e vaí até sexta-feira, dia 02 de Julho.
    Ficaramos muito felizes em tê-lo conosco novamente!

    Beijo grande!

    Sanzinha

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  11. Belo o tema do texto! Você colecionou todas as vivências e soube doá-las. Parabéns!

    BeijooO*

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  12. Caro amigo Eder, obrigado pela referência, mas somos nós que te agradecemos pela excelente qualidade literária de teus textos e não vejo a hora de receber o teu primeiro livro com dedicatória e autografado.

    Um abraço, caro amigo.
    Osvaldo

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  13. OI eder...caramba...me vi nese seu texto nas partes da datilografia, no celuar, acredita que só mês passado comprei meu primeiro celular, asim mesmo o esqueço quase todos os dias em casa...rsrs
    Essa tecnica de escrever dentro de um onibus, acho que também a possuo...rssr
    Tenhpo esa mania de ficar escrevendo em tudo quanto é lugar...por isso tenho sempre um caderno, um bloco, uma agenda ou qualquer coisa que de para colcoar as palavras que me nascem...
    Já te disse...guarde suas palavras num livro...elas merecem...rs
    Um abraço na alma...beijo no coraçaõ amigo

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  14. Passando e recifrando os signos, Eder.

    Abraço, meu amigo.
    Sigamos...

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