Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Educação sexual - Parte I

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   Quando a empregada doméstica da minha mãe pediu as contas, eu compreendi o seu desespero, pois, na cozinha, ela malmente sabia fazer o trivial; além disso, as dores na coluna não lhe permitiam muito esforço nos afazeres domésticos. Abateu-me um remorso desmesurado, pois eu fora o causador da demissão, sem ela saber.
   A franguinha cheirava a alho e cebola queimados em gordura reutilizada, o rosto símile ao abacaxi estuporava de acne, os dentes tinham a cor do maxixe maduro, os cabelos untuosos cheiravam a óleo de cozinha; mas – sempre tem um mas para justificar os nossos gostos, a visão paradoxal que temos do outro, e mesmo assim o desejarmos - , em compensação, tinha duas coxas roliças cor de canela, sedosas e sem nenhum penugem. Devia ser um ano ou dois mais nova do que eu, entre dezesseis e dezessetes anos. Apesar da baixa estatura, ela tinha as pernas longas, não tão desproporcionais ao corpo, e nem tampouco proporcionais. Amiudados olhos de cor inefável e inolvidável por trazer em si mistérios inextricáveis. Olhava sempre de soslaio, cabisbaixa, sem reparar em quem estivesse ao seu redor, como se não existisse, ou mais apropriado dizer, como se ela não existisse. Porém, o que mais excitável nela sobressaía era a sua timidez brejeira com ares de menina interiorana envelhecida sem deixar de perder o que lhe era imberbe. Devido a isso, eu não sentia os seus eflúvios característicos, permanecendo o cheiro de terra molhada, das flores orvalhadas pela madrugada, das frutas maduras ainda no pé, provocando concupiscência inaudita.
   Imbuído de um samaritanismo perverso, ou seja, ajudar com o intuito de tirar algum proveito, eu fui ajudá-la com a escada para a limpeza dos móveis nas partes altas. Sempre de vestido até os joelhos, alguns cinco dedos acima, como o que estava usando, ela subiu os degraus da escada, porém, por mais alta que fosse a escada, tinha-se a impressão de que não alcançaria os móveis em seu topo, por isso ela sempre esticava os braços para alcançá-los, assim o vestido subia tantos dedos mais, deixando à mostra o ninho e a coruja. Por mais cego que eu fosse – e era, pois usava lentes de correção -, meus olhos não deixariam de ser atingido por aquela obra michelangeliana, cuja feitura foi a quatro mãos, dele, o artista e de Deus. Minhas mãos, até então, segurando firmemente as pernas da escada, foi espetada pela agulha diabólica da tentação e se viu na obrigação de se ater as outras pernas, as dela; mais precisamente as coxas; as mãos como se fossem dotadas de asas voou, aninhando-se no ninho na tentativa de ouvir o pio da coruja. Seriam, com certeza, uivos de prazer.

   Meu pai sempre atendera os desejos da família, desde que os fossem dele também. Todo final de ano reuníamos parentes e aparentados para assar um porco no rolete e depois degustá-lo. Era uma cerimônia tribal, e cada um executava uma tarefa, a mim, de pouca idade, cabia a admiração de vê-los preparando, e, lógico, depois, comer. Minha mãe achou por bem que deveríamos, no outro ano, assar um bode, assim também desejou o meu pai. Bode comprado, antecipadamente, para a engorda, eu fui, talmente Dom Quixote, montá-lo para desbravar o mundo numa epopéia cavalariça, não para deleite de uma Dulcinéia qualquer, mas, sim, para o meu mesmo. Tal qual o herói do livro de Miguel de Cervantes em suas desventuras, eu estatelei no chão levando coices e chifradas. Na outra semana, o corpo ainda em dores, eu, juntamente com toda a família, comemos o bode.

   Pois bem, minhas mãos, até então, segurando firmemente as pernas da escada, serelepe, voou às coxas da empregada, e subiu diabolicamente às pastagens ainda virgens. Quando o seu pé voou em minha direção, não tive tempo de me desviar. O meu peito absorveu o impacto do seu coice. Caí com a escada sobre mim, e ela despencou sobre a escada. Não deu tempo de sentir a dor, pois, lestamente, ela se desvencilhou da escada e desferiu um chute entre as minhas pernas. Eu vi as constelações do céu, todos os astros e quantos mundos havidos e não havidos. Doeu-me mais do que as chifradas e coices do bode. Com uma única diferença, o bode eu comi.
   Não demorou uma semana para minha mãe contratar outra empregada. Eu ainda me virava com as dores.

... e a história continua

12 comentários:

  1. Hahahahaha!
    Tomou porrada, mas foi por uma boa causa. Me solidarizo com você, hehehehe!
    Abraços.

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Adorei!!!
    A "Gabriela" ninja.

    Iaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhh!

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  3. Homens...!!! São todos iguais...!!!! E o Guará, como adora um mal feito, já de se solidarizar...
    Pobre da menina e pobre da sua mãe que ficou sem empregada...
    Pondo de lado a repreensão pela moralidade, rsrsrrsr, está muito bem escrito seu texto e gostoso de ler.
    Vou vir conferir o próximo capítulo.
    Beijokas.

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  4. "Com uma única diferença, o bode eu comi."

    GARGALHADAS
    Só você mesmo, Eder!
    Coitada da empregadaaaaa!
    Nossa, to rindo demais aqui!

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Beijo grande no coração, querido!



    Ps: Tem duas promoções pra ganhar livros no Universo Literário. Passa lá:

    http://universoliterario1.blogspot.com/

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  5. Tá vendo só?
    Quem mandou se meter com a moça?
    hehehehe...
    Beijos, flores e muitos sorrisos!

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  6. kkkkk.. coxas cor de canela? Ainda bem que ela não tinha chifres, né? Como vai? Deixei um selinho para vc lá em meu blog. Espero que goste. Abração.

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  7. Bom dia, Éder!

    Você é uma das pessoas que mais me incentivam a continuar com o blog sobre livros, sabia?
    Seus comentários me animam muito!
    Obrigada pela força!

    Tem resenha nova, quentinha lá pra vc... rsrs

    Beijo bem grandão!

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  8. MUITO OBRIGADA PELAS DICAS. FORAM PRECISAS!!!

    VOLTAREI PARA LÊ-LO

    BEIJO

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  9. Eita Eder...é cada história hein...mas nesta idade um par de coxas desta natureza faz estrago na libido, assim como o par de coices faz estrago nas ferramentas...merecido ou não, creio que valeu a pena duazs vezes, caso contrário não teríamos esta bela narrativa do amigo...rs
    Que bom qu chegou o livro...já estava preocupado...
    Um abração na alma...

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  10. Eder, é de rir...e de chorar quando chega o final e ficamos com gostinho de quero mais...

    Sei que já disse, e outros também, você escreve bem demais, e vamos participando, vendo as cenas, e essa parada para introduzir (eps!!! sem maldade rsrs) o trecho da história do bode e depois continuar, é uma estratégia muito inteligente, de poucos escritores.

    Bravo!!! E aguardando a continuação.

    abraço.

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  11. MUITO BEM ESCRITO...DÁ GOSTO LER MAS É A TÍPICA HISTÓRIA DO RAPAZINHO QUE JÁ TEM AS HORMAONAS A FUNCIONAR E QUER IR TOCANDO EM TUDO SEM PEDIR LICENÇA ... E A EMPREGADITA É NOVA ...TOCA A EXPERIMENTAR...

    ESPERTINHO ...NÃO?

    VAMOS VER O QUE SE SEGUE

    BEIJO

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  12. O bode você comeu?! Conto muito bem elaborado e escrito vamos a segunda parte...

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