Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Educação sexual - Parte final

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   Rubicunda, ar glacial germânico, maneirismo europeizados, aparência militar no vestir, um corpo ligeiramente arredondado, e, principalmente, um par de coxa metricamente perfeita no diâmetro desde a junção dos joelhos até o vinco que a separa da bunda, como se tivesse sido projetado por da Vinci antes do seu feitio, a nova empregada, sisuda, me fez lembrar a minha professora de matemática, cujo rosto carregava dois aros de bicicleta que ela chamava de óculos. Batendo um dos pés no assoalho da sala de aula e com a palmatória na mão esquerda, ela perguntava quanto era dois mais dois. Respondendo que é quatro, ela avançava sobre as minhas mãos, dava dois bolos, ou seja, palmatoadas e dizia, são quatro energúmeno, como se a ortografia tornasse a matemática mais exata do que já era. Talvez seja por isso que durante muito tempo eu associei o canhoto ao diabo. 
   Não demorou muito para ela perder o ar glacial, o maneirismo europeu, desnudar do uniforme militar, mostrando o que trazia por baixo do mesmo, um vestido trapézio curto, florido, decotado e apesar do seu corpo arredondado, revelou uma simetria que eu nunca mais veria em outra mulher. Meus pés não precisaram ganhar asas para aproximar dela, quando dei por mim, estava envolvido pelo calor do seu corpo, sentindo os seus seios túmidos arder sobre o meu tórax. Minhas mãos foram levadas à sua bunda, depois conduzida até a sua cintura, desnudando-a de vez. Sem nenhuma peça íntima sob o vestido, sua pele abrasou minha concupiscência. Se eu pudesse parar o tempo naquele momento, eu poderia dizer que fui a pessoa mais feliz. Mas não podia. Irrompeu no ar a campainha estridente, anunciando que não estávamos mais sós.
   Perto dele eu me sentia como a formiga diante do elefante. Seus mais de dois metros de altura imperavam diante de qualquer pessoa. Seu corpo musculoso lhe dava uma dimensão maior do que ele tinha. Sua sobrancelha caída não lhe dava apenas uma aparência entristecedora, mas também, isto sim, ameaçadora. O que estava, ali na porta, diante de mim não era um ser humano, mas algo belígero pronto para aniquilar. Sua aparência nazista era demasiadamente letal.
   Para o baiano, todo baiano é rei, os outros são vassalos; para o alemão, todo alemão é deus, os outros são judeus. E foi assim, de judeuzinho, ao perguntar se sua esposa se encontrava que ele me chamou.
   Pudibunda, ela surgiu atrás de mim dentro do seu uniforme militar. Recatada, ela o beijou, primeiro na mão, depois no rosto, reverenciando-o humildemente. Nunca mais a tive como neste dia. No outro dia com hematomas pelo rosto, ela se demitiu. No dia anterior, ela se esquecera de colocar as peças íntimas ao acompanhar o marido à sua casa, e numa revista minuciosa, com exagerada minudência, ele sentiu cheiro de traição, literalmente, pois quando revistava usava o olfato, além do tato, também e tão bem. Eles não foram felizes para sempre.
   Eu poderia terminar a história aqui, com reticências, deixando no ar a probabilidade da felicidade do tarado infanto-juvenil envolto em coxas feminina. Mas não posso, a história continua.

   Está decidido. De hoje em diante eu só contratarei empregado doméstico. Assim minha mãe falou, dando ênfase ao “o” de empregado.
   Com aquele avental branco até o tornozelo, partido no meio até a altura da cintura, ele estava mais para médico ou enfermeiro, mas infelizmente ele era o novo empregado. O cheiro da comida era bom, salivava a boca. Eu me aproximei e percebi ele jogar o talher no chão, propositalmente, sem disfarçar a sua teatralidade; abaixou sem dobrar os joelhos, jogando o corpo para frente de costas para mim. Quando cada parte do avental foi para o lado, a tanga que ele estava usando mal dava para cobrir o risco, deixando à mostra uma boa parte do “o”. Tal a lagarta ao sair do casulo para se significar como borboleta batendo as asas, lucilando todas as suas cores e indo direto ao pistilo da flor para sugar o seu néctar, ele também tentou fazer isso se dirigindo a mim, mas antes me perguntou se eu não queria experimentar o seu “edi”, pois se assim fizesse, eu ia esquecer as coxas de todas as “mapoas”. Além disso, me chamou de “bofe” lindo e me pediu para despreocupar, pois a “mona” não estava coma a “tia”. Saí dali correndo e ouvindo-o dizer, “ainda aquendo este bofe”.
   Como já estava trabalhando, eu resolvi almoçar no restaurante frango frito próximo da minha casa. Degustei muitas coxas suculentas, a saber, de galinhas. Início de carreira, salário aquém das expectativas, o dinheiro não era o suficiente para a ceia. Eu fui obrigado, à noite, comer em casa...
   Toda a carne servida pelas empregadas domésticas, seja maminha ou coxas, peito ou lombo, pernil ou rabada, sem exceção, eram apetitosas; porém nenhuma delas superava o cozido do empregado doméstico, tanto é que além de comer a noite, eu passei a comê-lo no almoço, e para não levantar suspeita da família passei a ir à cozinha pela porta do fundo, e não havia parte do dia que eu não ia lá experimentar o seu dote culinário. Quantas saudades eu tenho do seu cozido.             
 

8 comentários:

  1. Boa postagem.

    Te desejo um ótimo final de semana.

    abraços
    de luz e paz

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  2. Hahahaha, que figura!
    Ainda bem que você comeu o co(u)zido com maestria e curiosidade, hahahaha!
    Abraços.

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  3. rsrsrrsrrs... que minino travesso! Seus textos têm sempre finais surpreendentes e a leitura é, invariavelmente, muito agradável e envolvente. Adorei os pratos citados, pois além de saborosos foram muito didáticos nesse caso... rsrrsr
    Beijokas e um lindo fds.

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  4. Final feliz?
    Mano gostei do conto e da dose de humor , parabens e tudo de bom!

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  5. interessante e engraçado o texto adorei
    :)
    Vim lhe desejar bom findi
    Beijos

    "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade" (Carlos Drummond de Andrade)

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  6. Eder, maravilhoso post e como sempre nos surpreende. A história bem amarrada e escrita me fez sorrir. Dose de humor na medida certa.
    Um beijo

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  7. Oiê!

    Eder, seus últimos textos dariam um divertido e apimentado seriado.

    Abraços :)

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  8. Caramba, Éder!
    Nem o empregado vc deixou passar! kkkkkkkkkkk
    Muito bom!


    Vim avisar que estou saindo de férias do Jardim e que só volto no mês que vem.
    Desejo que seu Natal seja abençoado e repleto de paz, e que Deus lhe abençoe constantemente no ano de 2011.

    Deus seja sempre contigo!
    Um beijo no coração!

    http://www.youtube.com/watch?v=aiE5wJjwn68

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