Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A vida me ensina III


Diferente da minha mãe que tinha o hábito de guardar qualquer coisa que lhe remetesse ao passado, eu me desfazia de tudo para não lembrar quem eu fora.
    Sabedora disso, eu estranhei quando ela me deu uma camisa que eu usei quando tinha, aproximadamente, doze anos. Nessa época eu estava com trinta e três anos. A camisa, devido ao seu zelo, parecia não ter sofrido com a passagem do tempo, estava impecável, o mesmo não poderia dizer de mim. Não lhe perguntei o motivo de estar me dando o souvenir, porém, as lágrimas derramadas por ela deveriam ter algum, contudo, não lhe perguntei. Eu estava me casando, não sei se para ela, saindo de casa.
   Os pais sabem, quando os filhos casam, os vão perdendo aos poucos, não para os respectivos maridos e esposas, mas para a nova família que se estar formando. Mal sabem dos ganhos que terão.
   Anos mais tarde, revolvendo o meu "baú", percebi que além da camisa que ela havia me dado, também havia trazido duas figas esculpidas em um galho de arruda presenteadas pelo meu avô e um copo de alumínio com o meu nome gravado. Dos meus sete irmãos, apenas dois não ganharam os copos de alumínio, e destes, apenas eu permanecia com o meu. Em dois mil e doze o copo completará doze anos, a camisa, aproximadamente, trinta e sete anos, as figas quatorze anos. Nunca me interroguei por que os guardo, mas sei que eles me fazem lembrar das pessoas que mais amo. A camisa, a minha mãe; o copo, além de lembrar o meu pai, também lembra a criança que eu fora e deixei se perder nesse labirinto insensível que é a capital paulista; as figas, o meu adorável avô. Hoje, eu percebo que as duas figas é a eternização de suas mãos, a me guiar, e somente ele, o meu avô, sabe o quanto ainda preciso delas. O copo ainda uso para matar a minha sede, contudo, ainda não cedi à criança que perdida tem sede de mim. A camisa, há muito tempo, não me cabe, no entanto, a necessidade de vesti-la me angustia, pois ela me diz a roupagem que eu deveria ter, a bondade personalizada em minha mãe. Essa é a minha dor, ela não me veste por em mim não caber.
   Lição: preciso me tornar pequeno, pois a maior grandeza é a humildade, e é ela que matará a sede da minha criança e me tornará cabível na camisa.


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12 comentários:

  1. Lembranças temos tantas, e quando vamos mexendo no baú, vão saindo muitas e muitas. Belo texto. Bela lição. Grande aprendizado.

    beijo

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  2. Que linda lição esta. Mães sempre ensinam, o amor sempre ensina!

    Você foi tão eficaz em descrever a grandeza da sua mãe (por consequência a sua) que meus olhos marejam só de vê-la na foto abaixo. Ah, Eder, isso não se faz com uma chorona assumida.

    Fiquei alguns dias sem entrar na internet e quando voltei senti sua falta por lá. Ontem à noite pensei que hoje a primeira coisa que faria seria vir te "ver". Você ouviu meu chamado e antes que eu viesse foi lá.

    Beijos

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  3. "É preciso me tornar pequeno" - essa frase já fala alto sobre o grande homem que você é, mano! Quando somos capazes de reconhecer que ainda temos tanto a aprender e evoluir é que nos aproximamos, um pouquinho por vez, de Deus. Lindo depoimento, saio com um leve sorriso nos lábios, pensando nos meus próprios souvenires que a vida trata de nos entregar.

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  4. Olá Eder!

    Viver e reviver faz parte de quem tem bons sentimentos...e ao nos sentir envolvidos por estes, devemos saber de como aproveitar o que a nossa alma esta á sentir naquele momento.

    Abraços.

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  5. Oi, Eder, que belo texto! Guardo poucos objetos mas concordo que quando o fazemos, é como se estivéssemos mantendo uma ligação com o passado, com algo que ficou perdido no tempo. É como se aquele objeto tivesse a capacidade de resgatar algo que ficou perdido, e por qual nossa alma anseia. Os últimos tempos afugentaram a criança que mora em mim, e isso tem me causada muita dor, porque viver sem essa parte fatalmente me tornará incrédula e amarga. Esperoq eu ela retorne logo. Um abraço!

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  6. .

    .

    . a humildade nunca poderá ser aparente . como "tanta" que se encontra por aí .

    .

    . um forte abraço .

    .

    .

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  7. ...felizes os que podem desenterrar lembranças,
    e trazê-las à luz dos aprendizados, e você,
    é um abençoado.

    bjs, alma linda!!!

    saudades de vir aqui...

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  8. Que lindo texto e experiência, dia a dia vamos aprendendo e crescendo, gosto muito de uma frase: “A humildade não é apenas uma graça ou virtude como outras, ela é a raiz de todas, pois somente com humildade toma-se a atitude correta diante de Deus, e permite-se que Ele faça tudo”.
    A braço!

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  9. Reconhecer-se imperfeito diante da própria vida é sinal de um passo adiante a caminho da tão desejada perfeição.Somos um pouco ou muito das nossas heranças familiares.Sua história demonstra isso para mim.
    Abraços,

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  10. .



    Gostei muito da distribuição
    dos assuntos.
    Voltarei mais vezes.
    Ah, estou seguindo o seu blog.
    Siga o meu também, vai.

    Palhaço Poeta






    .

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  11. qtas maravilhas perdi estando no "inferno" 4 dias...
    otimo, bjos

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  12. Eder, belo texto. Confesso que guardo muitas coisas e tenho dificuldades de me desfazer justamente por me lembrar de algo do passado ou até mesmo por criar um 'vínculo' com o objeto. Por isso mesmo que me identifiquei com sua mãe. Gostei do texto e da sua lição.

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