Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eu nunca mais joguei bola


Foi numa tarde de domingo que ele me deu o primeiro presente, uma bola de capotão. Nesta mesma tarde fomos para o meio da rua bater uma bola, e toda vez que eu a chutava ele dizia para toda a rua ouvir, “Gol de Pelé”. Assim durante catorze anos fui chamado em Barra do Rio Grande, cidade do interior da Bahia. Ainda hoje, lá, sou conhecido como Pelé. Outras tardes vieram, e ele sempre esteve comigo.
Ele estava comigo quando aos quatro anos eu fui queimado na coxa por água fervente; aos seis quando, correndo, na padaria do meu pai, atrás do meu bicho de estimação, uma preá, um saco de trigo de cinqüenta quilos caiu sobre mim; aos oito quando, por pouco, eu ia perdendo o dedão do pé cortado por caco de copo de louça; aos nove quando pego em flagrante pelo meu pai, praticando o ofício do prazer em suas criações de aves, mais precisamente uma pata, ele me salvou da sova certa; aos dez quando estava partindo para São Paulo em decorrência da doença que poderia me levar à morte, ele, em lágrimas, não permitiu que eu levasse a bola de capotão, pois assim ele tinha certeza que eu voltaria, e hoje eu tenho o pressentimento que somente voltei para jogar bola com ele nas tardes de domingo; aos catorze quando estava partindo do interior da Bahia para Brasília, ele, em lágrimas, não permitiu que eu levasse a bola de capotão, - de tão velha que estava não parecia mais uma bola. – pois assim ele tinha certeza que um dia eu voltaria. Eu nunca mais joguei bola, nunca mais as tardes de domingo foram iguais.
Ele tinha como nome a fraternidade. Ave Pedro, fazedor de sela. Ave Pedro Seleiro. Ele tinha como nome a solidariedade. Ave Pedro, navegante dos rios Grande, Preto, São Francisco e tantos outros rios. Ave Pedro Barqueiro. Ele tinha como nome o amor. Ave Pedro Mariano Vogado. Ave, sempre, meu avô.

12 comentários:

  1. E vc que dá o presente, meu amigo? para ele e para nós? Pq essa homenagem é à vida! Emocionante, belíssimo, não há mais que eu possa dizer :) Feliz aniversário!!!! Com muitos e muitos anos de bênçãos, de alegrias, de livros e amigos. Felicidades, Eder!!!

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  2. Oi, amigo! Obrigada pela visita e pelo comentário em nosso blog. Suas leituras são ótimas. Bjokas!

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  3. Eita Éder...ele tinha como nome a solidariedade...isso emociona, meu pai era sinonimo disso...ahh...a bola de capotão...rsrs...sabe que a nossa primeira bola de couro dada por nosso pai era daquelas costuradas a mão e ele comprava sebo no açougue...rsrs...para passar no couro e conservar sempre que chegávamos em casa depois da pelada na beira do rio, nunca esqueci disso...são tantos os momentos que me perderia por aqui narando...valeu Éder, me senti batendo bola contigo...um abraço na alma

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  4. Grande Pedro.
    Grande avô.
    Grande vôo.

    São estas pessoas que nos fazem homens e crianças.

    Abraço forte, meu caro.
    Continuemos...

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  5. Querido Eder!

    Que emocionante o seu texto, belíssimo. Avô querido, companheiro, amigo, cúmplice. Sim, estamos em sintonia. Falemos de nossos Pedros, Ave Pedro e Pedro K. Eu amava o meu,demais. Meu Pedro era silencioso, mas sempre presente. Olhar afetuoso, compreensivo. Uma pessoa adorável, como Ave Pedro, o seu!

    Amigo, brindemos! Aos Pedros em nossa vida.
    Beijo

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  6. Amigo Eder;

    Bom,... palavras não chegam para expressar todos os sentimentos que eu como leitor, senti, depois de ler esta crónica, de lembranças e de doce saudade do seu avô.

    É que eu, hoje já avô, não esqueço os ensinamentos de meus avós e o quanto eles contaram em minha vida.

    Obrigado, Eder, por nos lembrar disso...

    Um grande abraço, amigo,
    Osvaldo

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  7. __________________________________


    ...tocou o meu coração! É o segundo texto que leio hoje sobre avos... Também tive um avô formidável!


    Muito bom o seu texto!!!


    Beijos de luz e o meu carinho!!!

    Zélia

    ________________________________

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  8. Que homenagem mais linda Éder.
    Impossivel não emocionar ao ler algo tão terno assim.
    Sinta-se abraçado na alma por mim.

    Um beijo carinhoso

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  9. Passando e relembrando do gigante Pedro.

    Meu abraço, Eder.
    Sigamos...

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  10. Olá Eder,

    As lágrimas caem no meu rosto...
    Que bonito!
    Sabe, eu sou leoa, você é leão, mas quem nos conhece sabe como funciona o nosso coração...
    Que saudades eu tenho dos meus avós!
    Quanto amor nas suas palavras para o seu avô!
    Parabéns!
    Conseguiu emocionar-me!
    Vou segui-lo.

    Um beijo

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  11. Que lindo texto, profundo alimento para a nossa alma, vivificação da nossa humanidade, obrigada poeta, bjos

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