Toda interferência humana traz consigo prejuízos irreparáveis. Assim que as matinas do final de Março descortinavam, os ventos outonais fracos, porém gélidos, sopravam. O clima não trazia o frio característico e se não fosse pelo mês, Março, pensaríamos que as manhãs eram outonais, as tardes veranis e as noites primaveris, sabendo-se que a estação era outonal. Contudo se o meu estado físico não sofria com as mudanças repentinas do tempo, o meu estado anímico, irascível, não dizia o mesmo. Por ser outono, a estação me doía onde eu era mais vulnerável, na alma, a enregelando em tristezas e por mais que eu buscasse na mente animo para degelá-la, desarrazoada, a minha alma se nutria de sentimentos desconhecidos da razão. Eu me escurecia.
A pior escuridão não é aquela que te cega para o que está em tua volta, mas a que te cega para ti mesmo.
O nublar do espaço físico descorloria o ambiente tornando-o feio, não que a fealdade fosse intrínseca aos objetos, era apenas um estado de feiúra, pois se retirasse a névoa da estação o colorido ressaltaria dando beleza a quem era belo. Por maior que fosse o espaço, a estação não me deixava enxergar uma outra cor senão o cinza. Seriam, sempiternos, tristes dias outonais de esperas. O que mais me desconsolava era saber que após o outono o inverno me tirava qualquer tentativa de esperança. Eram-me custoso dar um passo após o outro, por mais que os meus pés fossem, eu não os acompanhariam. Estava em um estado hibernal angustiante. O que me aterrorizava era ter que abrir a porta e sair, afinal todas as feras se encontravam lá fora e a luta era injusta, mas quando você somente luta consigo mesmo não há vencedor.
Caíam as flores sem ter dado a oportunidade ao fruto de brotar e nem tão pouco a esperança da semente. As folhas secas trazidas a minha porta pelos ventos significavam muito mais do que a chegada da estação, elas acentuavam externamente as minhas tristezas internas.
Saí e percorri a rua com os olhos. Amarelecida pelas folhas e flores caídas das árvores, a calçada se apresentava a mim com a languidez da estação. Circunspeto, a ultrapassei sabendo que seria seis meses de uma luta inglória comigo mesmo. Algures a derrota era eminente.
A similitude do inverno com o outono caracterizava a inelutabilidade das estações, premissa da minha derrocada, deixando-me como simulacro de mim mesmo.
Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com
domingo, 19 de abril de 2009
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A pior escuridão não é aquela que te cega para o que está em tua volta, mas a que te cega para ti mesmo.
ResponderExcluirQue todos os claros da vida possam estar sempre ao alcance de seus olhos, sejam em qual estação for...
Mais um belo texto amigo...desculpa a ausência, andei super enrolado...um abraço na alma
Nestas horas, nada pior que não enxergar mudanças.
ResponderExcluirO estático que não é estético.
Abraço forte, Eder.
Bom sábado.
Continuemos...
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ResponderExcluirMuito bom o seu texto... um mergulho reflexivo...
Beijos de luz e o meu especial carinho, Eder!!!
Zélia (MUndo Azul)
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Éder... suas palavras conseguem arrancar de mim a inércia... agigantam o ser ávido por viver!
ResponderExcluirTenha uma semana repleta de dádivas.
Deixo um beijo carinhoso
Por aqui, um sol insistente, tenta deixar o domingo um pouco mais claro, mais vívido... e relendo esse verdadeiro (e maravilhoso) tratado de estações humanas, eu me emociono, e insisto um pouco mais.. Do tanto que for preciso. Menino, vc tá cada vez mais "ferinha" com as palavras! Minha admiração e carinho, sempre sempre, pessoa querida! Beijo grande, lá do fundinho do coração :-)
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