Quando eu cheguei à rodoviária do Tietê e vi mais bagagens do que passageiros no portão de embarque do ônibus que me levaria para a Bahia, eu constatei que o baiano quando viaja, seja para o nordeste ou qualquer parte do Brasil, leva tudo o que puder comprar em prestações a perder de vistas nas casas Bahia, pois o que mais se via era pacotes com a logomarca da loja.
Eu estava tranquilamente guardando as minhas dez bagagens - éramos seis pessoas viajando, e para não negar a minha baianidade, eu estava levando um micro-system comprado nas casas Bahia em suaves prestações -, quando ouço alguém gritar: "E lá se vão várias bolsas família". Olho para cima, de onde veio o grito, e reparo que não havia nenhuma bolsa, mas uma caixa enorme rolando escada abaixo. Ao chegar ao meio da escada, a caixa já havia perdido o papel com a logomarca das casas Bahia, e ao atingir o chão deixa a vista uma televisão LCD aos cacos. Então entendi o motivo do grito, a televisão que o infeliz carregava seria do seu pai, nordestino cabra da peste que havia enviado o dinheiro ganho, não com o suor do seu trabalho, mas com os rendimentos do bolsa família. Antes o nordestino queria o pão para matar a sua fome, hoje ele quer matar outras fomes, precisa de circo. Por isso eu estou levando o micro-system, e ele estava levando a TV.
Assim que os ponteiros do relógio avançavam, parecia que a população baiana se encontrava na rodoviária do Tietê. Se passasse um trio elétrico na Avenida Cruzeiro do Sul não sobraria uma alma viva no terminal. Não passou. Eu, como todos ali, esperávamos o ônibus encostar-se à plataforma de embarque.
Enfim o ônibus encostou. Primeiro embarcou as bagagens, e como alguns baianos além de levar as casas Bahia, leva trouxas e mais trouxas como mala, o embarque demorou um pouco, pois o que mais se via era trouxas. O trouxa aqui, digo, eu pesei minhas malas na esperança que não ultrapasse o peso permitido por passagem. Cada passagem dá direito a trinta quilos, como tinha cinco, minha bagagem não poderia ultrapassar cento e cinquenta quilos, senão teria que pagar taxa por quilo excedente. Faltou cento e um grama para ultrapassar. Ainda bem, tirei um peso de minhas costas.
A algazarra e o sorriso nos rostos de todos ali na hora do embarque era prova de que todo movimento para o baiano é motivo de festa. Porém minha expressão era de preocupação, pois tive a sensação de estar em um filme de terror estadunidense. Como sabemos, exceto o mocinho ou a mocinha, todos morrem no filme. Somente o vilão, que também morre, ressurge em outra sequência, e assim será, não importando quantas sequências tem o filme, ad infinitum. O triste desses filmes é que os primeiros a morrerem são negros e latinos. Sabemos de antemão, quem nasce na Bahia, além de baiano é latino. O que ninguém sabe é que na Bahia todos são negros, mesmos os nascidos brancos, pois o sol não permite ficar branco por uma vida toda.
Esta texto não foi patrocinado pelas casas Bahia. Os relatos aqui narrados pode não parecer, mas são verídicos (?)
A viagem está para começar, embarque nessa...
Continua.
Eu estava tranquilamente guardando as minhas dez bagagens - éramos seis pessoas viajando, e para não negar a minha baianidade, eu estava levando um micro-system comprado nas casas Bahia em suaves prestações -, quando ouço alguém gritar: "E lá se vão várias bolsas família". Olho para cima, de onde veio o grito, e reparo que não havia nenhuma bolsa, mas uma caixa enorme rolando escada abaixo. Ao chegar ao meio da escada, a caixa já havia perdido o papel com a logomarca das casas Bahia, e ao atingir o chão deixa a vista uma televisão LCD aos cacos. Então entendi o motivo do grito, a televisão que o infeliz carregava seria do seu pai, nordestino cabra da peste que havia enviado o dinheiro ganho, não com o suor do seu trabalho, mas com os rendimentos do bolsa família. Antes o nordestino queria o pão para matar a sua fome, hoje ele quer matar outras fomes, precisa de circo. Por isso eu estou levando o micro-system, e ele estava levando a TV.
Assim que os ponteiros do relógio avançavam, parecia que a população baiana se encontrava na rodoviária do Tietê. Se passasse um trio elétrico na Avenida Cruzeiro do Sul não sobraria uma alma viva no terminal. Não passou. Eu, como todos ali, esperávamos o ônibus encostar-se à plataforma de embarque.
Enfim o ônibus encostou. Primeiro embarcou as bagagens, e como alguns baianos além de levar as casas Bahia, leva trouxas e mais trouxas como mala, o embarque demorou um pouco, pois o que mais se via era trouxas. O trouxa aqui, digo, eu pesei minhas malas na esperança que não ultrapasse o peso permitido por passagem. Cada passagem dá direito a trinta quilos, como tinha cinco, minha bagagem não poderia ultrapassar cento e cinquenta quilos, senão teria que pagar taxa por quilo excedente. Faltou cento e um grama para ultrapassar. Ainda bem, tirei um peso de minhas costas.
A algazarra e o sorriso nos rostos de todos ali na hora do embarque era prova de que todo movimento para o baiano é motivo de festa. Porém minha expressão era de preocupação, pois tive a sensação de estar em um filme de terror estadunidense. Como sabemos, exceto o mocinho ou a mocinha, todos morrem no filme. Somente o vilão, que também morre, ressurge em outra sequência, e assim será, não importando quantas sequências tem o filme, ad infinitum. O triste desses filmes é que os primeiros a morrerem são negros e latinos. Sabemos de antemão, quem nasce na Bahia, além de baiano é latino. O que ninguém sabe é que na Bahia todos são negros, mesmos os nascidos brancos, pois o sol não permite ficar branco por uma vida toda.
Esta texto não foi patrocinado pelas casas Bahia. Os relatos aqui narrados pode não parecer, mas são verídicos (?)
A viagem está para começar, embarque nessa...
Continua.
Já embarquei amigo e quero acompanhar tudinho.
ResponderExcluirbeijos
É assim, mesmo, mainha!
ResponderExcluir"Bota a mão no joelho
Dá uma abaixadinha
Tá levando uma mala
lá das Casas Bahia
Mexe mexe prum lado
Mexe mexe pro outro
Acomoda a bagagem
Que é das Casas Bahia..."
É desse jeitinho...
: )
Beijos!
Mano!! Saudade!! Adorei o começo das (muitas, espero!) histórias que você irá contar aqui! Vejo que começou com o que você tem de mais especial: bom humor! Um beijo muito grande, Maninha...
ResponderExcluirÉ bravo amigo!
ResponderExcluirÉ.
Abraços.,
Éder, estou rindo. Vendo e me sentindo na rodoviária. A vida real nos proporciona muitas histórias, alguns parece criação de bons escritores. E nem nos percebemos personagens de várias vidas. rsrs
ResponderExcluirbeijo
Que delícia de começo de viagem foi esse, Éder!
ResponderExcluirE a tv? Carambaaaaa! Que dó, gente...
Adorei o relato e estou ansiosa pela continuação.
Estou de volta, meu amigo!
Tudo bem com vc? Espero que sim :)
E ó... quer estourar seu cartão, estoure, mas não joga a culpa em mim! kkkkkkkk
É sempre bom tê-lo por perto.
Beijo grande!
TAMBÉM EMBARQUEI DE OLHOS FECHADOS,SEM BAGAGEM...NÃO LEVO A CASA COMIGO...É MUITO PESO... ENTÃO FAÇA O FAVOR DE ME GUIAR...:)
ResponderExcluirBEIJOS
Caro amigo Eder;
ResponderExcluirPrimeiro desculpa a ausência, mas o tempo começa a me dar tempo.
Quanto a essa viagem com partida na rodoviária do Tietê, deverá ser uma odisseia incrível e eu cá estarei para acompanhar todas as voltas que a "roda do ónibus" der até à chegada ao destino porque sei que muitas e belas histórias sairão dessa cabeça contadora.
Grande abraço, amigo e professor Eder.
Osvaldo
Eder, esqueci de avisar: vc prestou atenção no que eu escrevi no post da promoção das irmãs Grimm? Pra cada comentário q vc fizer, vc pode preencher o formulário de novo pra ganhar mais um numero. Pode ser posts antigos, não tem problema. E pra cada vez q divulgar a promoção, preenche mais uma vez. :)
ResponderExcluirBeijos!
Estou na sua cola... e vamos lá nessa viagem quase épica. Morri de dó do sujeito da tv. Essa viagem promete. Não vou levar muita bagagem, pois detesto pagar excesso. Seu texto é delicioso.
ResponderExcluirQue a viagem comece...
Beijokas.
Oi Éder... adorei embarcar contigo nessa viagem...
ResponderExcluirNossos sonhos muitas vezes são realizados nos crédiarios das casas Bahia dessa vida...kkkk
Faz parte do pacote de nossas realizações!!!
Tenha uma ótima semana!
Um beijo carinhoso, Tatiana
Éder, adorei o seu blog. Vou ficar fã e volto para ler a continuação desta saga e muitas outras coisas.
ResponderExcluirTeu texto é ótimo. Parabéns.
Fica o convite para passar no meu espaço e tomar uma taça de Absinto.