Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sob um pé de verso: sobre coxas e sobrecu - Última parte


“Entre as lembranças que cada um de nós possui, há algumas que não contamos senão aos nossos amigos. Há outras ainda que não confessaremos senão a nós mesmos, e, aliás, sob o signo do segredo. Mas existem enfim coisas que o homem não consente nem em confessar a si mesmo. – Dostoievski”

Aqui termina a saga do menino que virou um garoto, e o garoto virou um homem sem deixar de ser menino, pois o homem é feito e refeito todos os dias, nunca completo para absorver e ser absorvido. Obrigado, caro amigo Élcio, por me dar a oportunidade de voltar para trás e perceber que por mais adiante que eu esteja o meu passado me segue, não como se me ensinasse a ser, mas para saber que ser é uma eterna construção de si.

     Aquele foi o último ano de sua inocência. Ele ainda acompanhava a sua mãe nas aulas de Francês e Latim, ajudava-a a moldar na argila os bonecos que enfeitaria a lapinha, mas já não acreditava em Papa Noel. Apesar da proibição do pai, lia livros de bolso de bang-bang. Mesmo com a permissão do pai, folheava as revistas de nu feminino, mas não fazia uso das mãos para conhecer seu corpo temendo o castigo divino. Porém o seu corpo pedia conhecimento, o menino não mais existia, nascia o homem.
     Enfim o menino tornou-se um garoto, e o garoto queria ser homem. Seu pai, necessitando de ajuda na criação das aves, lhe ensinou tudo sobre as mesmas. Diferentemente do que ele pensava, as aves não botavam os ovos com a casca dura. Seu pai lhe ensinou que as aves tinham a cloaca muito quente, e assim que os ovos entravam em contato com o ar frio, a sua membrana externa endurecia. Desse dia em diante ele pensou as aves de uma forma diferente, libidinosa até. Entre o pensar e o agir foram poucos passos. De tanto agir e pouco pensar, seu pai acabou descobrindo, e para lhe dar uma lição matou a sua ave favorita, uma pata. Você aprenderá a forma correta de comer um animal, seu pervertido, lhe disse seu pai.
     Ceia posta, família reunida, o pai empurrou a travessa com a ave assada para o garoto se servir da parte que mais o apetecesse. Não se fazendo de rogado, ele cortou o sobrecu da pata e o mastigou pausadamente demonstrando, com malícia e escárnio, o prazer que aquela parte da ave lhe proporcionava. Seu avô percebendo que a atitude do neto era provocativa, o chamou para perto de si e acarinhando-o disse:
     - Esse meu neto sabe apreciar os prazeres que a carne lhe oferece. E olha que não é guloso, escolheu a parte menor da ave.
     Um dos empregados da padaria do seu pai e ajudante na criação das aves emendou:
     - Ele só é guloso para esta parte da ave quando ela está viva.
     Apesar da ousadia do empregado em verbalizar o que deveria ser ocultado de todos, não teve quem não risse.
     Ah, ia esquecendo. E uma mulher, entre risos, complacente, cacarejou:
    -Meu Deus, esse garoto... Esse lindo garoto... Ah! Em que vai se transformar?
     E a voz da mulher exacerbava gozo.

* A foto é da cidade que eu nasci e onde a história se passa.

12 comentários:

  1. Mente aguçada, num corpo em desenvolvimento... Gera necessidades latentes!
    Fazer o quê... nossa natureza é instintiva.

    Só tenho a agradecer as suas palavras deixadas em meu blog. Obrigada por você ser quem é e me permitir ser quem eu sou!

    Um beijo carinhoso

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  2. Olá Eder!

    Muito obrigada pela visita!

    Agora vejo..., és Leão como eu!

    Parabéns pelo filhinho que vem a caminho!
    É uma benção dos céus!

    Que Deus te dê muita saúde e vida para transmitires por longos anos ao teu Herdeiro a pessoa linda que és!

    Sabes Eder, nem sempre eu consigo ver a partida do meu sogro com um sorriso, que era como ele gostava de me ver..., dizia que quando via um sorriso no meu rosto... ganhava o dia!
    Mas eu penso isso mesmo!
    E ajuda-me imenso, porque a saudade é enorme... é que ele era um segundo pai que eu tinha!
    Além disso, durante cerca de um ano, dediquei, quase exclusivamente, a minha vida a ele!
    Ele dizia que eu era a sombra dele, por isso que ele dizia, já podes imaginar a ligação que tinhamos!
    Por isso mesmo, tenho que esforçar-me para que o sorriso seja a minha "imagem de marca" como foi enquanto ele cá esteve, apesar de muitas vezes sorrir, enquanto por dentro chorava!

    Oxalá recordes o teu cunhado com um sorriso, porque seguramente, onde eles estiverem, ficam muito mais felizes!

    Um beijo!

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  3. Menino Eder, só agora entendi o sobrecu,estava preocupado em desvendar logo esta parte libidinosa de seu conto...rsrs
    Hoje além de ser presenteado com o texto final de sua participação no aniversário do Verseiro, ainda fui agraciado pelo vídeo inspirador...
    Um duplo abraço ana alma amiga...beijo no coração menino...

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  4. Deliciosa história e muito bem contada...rs
    beijo

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  5. Garoto bom e de bom gosto. Aprecio e aplaudo, amigo Eder.
    Abraços.

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  6. kkkkk.. tem gosto pra tudo, né? Fazer o quê? No aperto vai a pata mesmo! Obrigada pela visita, beijos!

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  7. Excelente, Éder! Uma história cheia de humor, temperada com tua habilidade na escrita e com teu talento narrativo. Um delícia de leitura. Quem sabe, a saga do menino continua?!

    Beijo

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  8. Que belo e fecundo texto,com claridade fluindo e nos evocando infinitas sensações. Tudo reconstruindo em sua caminhada, parabéns! bjos

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  9. Olá Éder!

    Vim rapidinho para deixar um beijo e agradecer o seu carinho deixado em meu blog em forma de palavras. Saiba que para mim é um prazer receber a sua visita!

    Aproveite bastante o feriado!

    Quando puder passe no blog e confira a minha parceria com o Elcio num poema inspirado por você.

    Um beijo carinhoso

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  10. A Tatiana foi mais rápida, aliás mais rápida até doque eu mesmo...rsrs
    Um abraçona alma inspiradora...rsrs...depois vou postar no meu também...rs
    Valeuuuuuamigooooooooooooo

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  11. Uma história bem contada, corajosa até.

    É bom acompanhar as histórias, as parcerias entre blogs.

    abraços, um período de carnaval muito bom.

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  12. Maior do que me divertir com suas histórias é me deleitar com a criatividade, genialidade até, com que escreve. Muuito bom! Bom feriado, pessoa querida! :)

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