Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sertão demente


Diacho de vida chibunga. Miserável. Putrefata, até. A vantagem do meu trabalho é que eu aprendo palavras difíceis e lhe dou um real sentido. Largo a enxada, dou dez passos para frente e vejo o sol, o deus castigador, me arder as vistas; dou meia volta e dou dez passos para trás e o sol me ver como uma figura amuada, como se quisesse brotar do chão para ganhar vida. Ô mania abestalhada esta a minha. As unhas estão só o cotó, os dedos em carne viva avermelham-se. Diacho de vida chibata. Ordinária. Fétida, até. Bestado, dou dez passos para frente, dou meia volta e com mais dez passos volto para onde estava antes. O mesmo sol a me olhar, como se o tempo não passasse, ou então o dia era tão longo que nunca terminava. Diacho de vida chinfrim. Desrazoada. Decrépita, até. Tabaréu, eu dou dez passos para frente e não vejo mais o sol. Dou meia volta e volto para dantes, e é a lua que me olha. Cavo, cavo, cavo e não vejo o tempo passar. Os músculos já não são tão rígidos para suster, no ar, a enxada. Os cabelos rareiam, embranquecem. Vida de chibungo, passo e não vejo o tempo passar por mim. Miserável tempo. Miserável vida. Pútrida, até. Cavo, cavo, cavo para, para sempre, permanecer no buraco. Diacho de vida lenhada. Vida rapariga. Vida quenga, até. Um dia desses um doutor disse que o nível de miserabilidade aumentava porque os pobres não paravam de procriar, e se houvesse um controle de natalidade as taxas de pobreza cairiam. Doutores chibungos, filhos de uma quenga, se morressem e levassem consigo a ganância, com certeza não existiria tanta miséria. Cavo, cavo, cavo e esses chibungos não morrem. Só enterro pobres. Vida de tabaroa. Lenhada. Necrosada, até. Enquanto as carpideiras choravam copiosamente, quase em silêncio, como uma prece, pelo morto que tinha nos lábios um sorriso de escárnio, como se a morte não o tivesse vencido, crianças, lá fora, soltavam seus surus, alegres. Enquanto as madamas exibiam seus badulaques, seus maridos empanturravam de badofe. Tabaréus. Os surus davam voltas no céu num bailado sincronizado e belo, para alegria das crianças que os soltavam, mas uma outra criança estava sentada no tamborete, dentro do cemitério, distraída, bulindo em seu badoque, como quem estava fugindo da tristeza que se achegava. Parei de cavar e, com as duas mãos postas no cabo da enxada, o queixo sobre as costas das mesmas, o pé direito apoiado no joelho esquerdo, fiquei admirando aquela criança. Por uns instantes tirei os pensamentos ruins da cachola. Me deu uma vontade desgraçenta de pitar. Enrolei o fumo na palha, e sem fósforo para acender o pito, pensei em acendê-lo nas velas que velavam o morto, mas desisti, pitei-o apagado mesmo. Diacho de vida pestilenta. Mórbida, até. Voltei a cavar quando senti a criança que eu estava admirando me puxar o uniforme. Essas crianças fazem perguntas difíceis de serem respondidas. “Moço os peixes são enterrados no fundo do rio quando morrem?”. O sol, o grande deus castigador, cozinhava os nossos miolos. Estava ali, no céu, como quem grudado por uma força maligna. O gado estava morrendo de fome e sede, meu pai já havia saído para cortar xiquexiques. Os olhos da minha mãe eram um desterro só, se perdiam ao longe na esperança que na metade do caminho a dor, o sofrimento e a tristeza, também, se perdessem no cafundó. No seu colo o caçula, nu, em pele e osso, chorava de fome, chorava de sede. Os seios da minha mãe, derreados, secavam. Seca. Fome. Sede. Diacho de vida severina. Vida marcada para morrer. Vida chibunga. Desgraçenta. Mefítica, até. O sol a nos amolar. Vida. Ouço as pisadas do meu pai no chão ressequido. O caçula chorava de fome, chorava de sede. Nem vento havia para levantar o pó do chão rachado pela seca. Meu pai de pito acesso volta com as mãos ao léu, vazias. O caçula não tem mais fome, o caçula não tem mais sede. Não chora. Seca pela seca, toda mulher sertaneja aprende a sofrer sem derramar uma lágrima, porque sabe que o choro é em vão, pois o sofrimento é uma linha imaginária que permeia, e permanece na sua existência de Judas. O caçula não mais chorava de fome, o caçula não mais chorava de sede. O xiquexique que eu pensava que era para matar a fome do gado, não era. Não havia mais gado. Era para matar a nossa fome, a nossa sede. Minha mãe percorreu os olhos por toda a extensão da roça. Chão morto, plantação morta, gado morto, vida morta. O caçula, mirrado, também. Com doze anos tive o primeiro contato com a morte, e aprendi com a minha mãe a não chorar pelos nossos mortos. Ela sabia que todos os filhos sertanejos são difíceis de vingarem, quase sempre, quase todos morrem. Era necessário sossegar o pito, eu olhei para o céu procurando uma resposta divina. Era preciso sossegar o pito, estava lá, colado no céu, a sorrir, o deus castigado, o sol. E era necessário sossegar o pito. Vida de bangalafumenga. Vida de badana. Nenhum sertanejo sossega o pito nesta vida chibunga. Diacho de vida. “Moço os peixes são enterrados no fundo do rio quando morrem?”. Aquela pergunta, repetida pela segunda vez, me resgatou do meu passado. Como eu não soube responder, a criança, amolada, espichou o pé em direção incerta, até sumir das minhas vistas. Diacho, eu nunca havia enterrado um peixe.
Vida rapariga, fodida. Vida lenhada. Cavar, cavar, cavar e nada plantar. Carnes mefíticas, pútridas, fétidas para alimentar vermes. Vida. Morrem em meus miolos pensamentos ruins. Um pé de árvore. Uma corda. Meu pescoço. Cavar, cavar, cavar. Um corpo morto para enterrar. E não é o meu. Vida.
Não somente em bares que se encontram as figuras mais estranhas, em cemitérios também. Quando a vi de longe, ela me pareceu um pitéu de mulher, porreta até. Toda de branco, com um buquê nas mãos, em cima do túmulo, chorando tanto que daria para encher várias moringas, e o mais estranho era que as lágrimas lhe caiam pelas coxas. Mal me aproximei, ela, apoquentada, me disse que eram águas de saudades. Foi aí que percebi que as águas que lhe desciam pelas coxas não eram lágrimas. “Sabe moço, ele ia me tirar dessa vida difícil e me daria uma vida fácil. Não agüentou a primeira noite. Também, sessenta anos nas costas. Depois do expediente se quiser, eu faço um serviço completo em você, com todos os bês. Apenas cinqüenta reais a hora. Sou boa, levanto até defunto. Tá me ouvindo moço, cinqüenta reais a hora, e é tabacão do bom”.
Os sertanejos são brutos porque o sertão lhe é bruto também, mas eles têm dentro de si uma amabilidade contida, silenciosa, ingestual; porém perceptível no olhar. Assim eram meus pais. Quando, pela primeira vez, minha mãe deu um pito em meu pai, eu tinha dezenove anos. Além do caçula, tinha morrido mais quatro irmãos acometidos por doenças devido à fome. Restava apenas eu e mais duas irmãs. Vida de sertanejo é vida maldita. A penúria era demais. Os pais sertanejos são os únicos que não sofrem pelas suas fomes, eles sofrem pelas fomes de seus filhos.
“Cês não são filhas de quenga para virar rapariga. Mulher deixa de arrelia com as meninas. Arrelia, suas filhas tá levando vida fácil e cê diz que é arrelia. Pelos menos elas trazem comida para dentro de casa”. Os olhos de minha mãe esmoreceram até o seu dia final. Minhas irmãs nos alimentaram até a morte dos meus pais. Depois que eles morreram nunca mais as vi.
“Moço, está me ouvindo. Cinqüenta reais a hora”. A voz daquele brucutu me trouxe de volta. Lhe dei uma pitomba no rabo, com brutalidade. Ela saiu arengando, me chamando de chibungo. Sumiu da minha vista sem eu perceber. Fui para casa arretado, sem perceber que ainda trazia o pito apagado na boca. Quando cheguei, o acendi e fui colar os olhos no céu. No meio do caminho do meu olhar havia uma árvore. A corda estava em cima da mesa. O primeiro trago do pito desceu apertado pelo meu pescoço. Vida de bangalafumenga. Eu sou um badana nesta vida. Noutro dia os pensamentos ruins ainda balangavam na minha cachola. A árvore. A corda. Meu pescoço. Cavar, cavar, cavar. Serei eu que terei de cavar minha própria cova?
A gravata sedosa em um nó bem apertado no pescoço dava aquele homem um ar de fidalgo. O tamborete destoava, porque um homem bem vestido merecia um assento mais apropriado, não que o tamborete fosse assento de pobre.
“Moço, nenhum homem é feliz quando perde a família. Ninguém. Moço, por favor, me ouve. Quando se perde alguém da família, não é esse alguém que vai embora, mas um pouco de você. Quando se perde todos, moço, a vida perde o sentido. Fica difícil de sentir a vida. Tá me ouvindo moço?”
Paredes de pau-a-pique, telhado de palha, chão de barro. Vida sertaneja é vida pobre. Maldita. Vida bangalafumenga, até. Casa de sertanejo não é lar. Em casa de sertanejo não há uma família. Filhos de sertanejo vivem a deus dará, criados como deus criou batatas, quando não morrem cedo, esparramam-se como batatas. Dispersos se perdem de si quase como mortos.
Vida sertaneja é vida retirante. Outros lugares, mesmo lugares. O sertão nos dá esta certeza, não importa o lugar, o clima sempre será o mesmo. Seco, árido. O único retiro que sossega o pito do sertanejo é a morte. E a morte para o sertanejo não é o fim em si, mas, simplesmente, um alívio. As incertezas do sertão retiram do sertanejo o sabor pela vida. A sua fé o impede de se retirar de vez.
Paredes de adobes, telhado com telhas de barro, chão cimentado com xadrez. Promessas de políticos não cumpridas. Abandonados a própria sorte, sem uma política social, os sertanejos são manejados pelos políticos como as folhas são pelos ventos. Os políticos do sertão em troca de votos oferecem dentaduras, óculos, medicamentos, mantimentos, passagem e outros caraminguás, mas políticas sociais que amenizasse o sofrimento do sertanejo nem em sonho. Meu pai foi iludido por um destes políticos, maioria no sertão, que lhe prometeu uma casa melhor, mas lhe deu bazulaques. O sertão pode, às vezes, ser pai. Quatro anos de inverno, plantação verde, gado gordo. Quatro anos de abundância. Café, almoço e janta. Quatro anos de felicidade. Casa de adobe, telhado com telha de barro e chão cimentado com xadrez, enfim um lar. Nesta época três irmãos haviam morrido. Nesta época meus pais estavam felizes, todos nós estávamos. Apesar das perdas éramos uma familia. Quatro anos porreta.
Mas nunca o sertão é pai por um longo tempo, ele é sempre padrasto. Diacho, a maior parte do tempo ele é padrasto. Os tijolos de adobe não agüentaram, carcomido pelo tempo se desmanchavam; o telhado cheio de goteiras – não havia gotas porque não havia chuvas – deixava passar os raios solares; o chão esburacava. O lar estava se desfazendo, a família também.
Aos vinte e um anos, voltando do roçado - um serviço inútil, pois a seca não deixava brotar nada – encontrei minha mãe sentada no tamborete na porta de casa, de olhos vazios, perdidos no horizonte, desesperançada, pois há muito tempo não comia por não aceitar ser alimentada pelo labor de minhas irmãs. Com o corpo currado pelo sofrimento, com a pelanca despregando dos ossos, ela se via perdida. Eu não era para menos. Cada um carregando o peso da derrota desistia. Ela da vida, eu do sertão.
Ouvi minha mãe levantar a voz uma única vez, quando minha duas irmãs se prostituíram. Toda a sua vida foi uma mudez perturbadora. Agüentou o sofrimento calada. Eu a vi morrer como viveu, em silêncio. A morte lhe trouxe tranqüilidade, antes de morrer esboçou um sorriso nos lábios. Para todo sertanejo a morte é um alívio.
Há algo inexplicável no sertanejo que o faz agüentar todo o sofrimento-sertão sem praguejar. São homens e mulheres sem lamúrias. Fortes agüentam todo tipo de sorte. Fortes resignam-se para todo tipo de dor. São, como todo sofredor, quase santos.
Meu pai não diferia muito da minha mãe. Ele acreditava que o sertão era o que era porque tinha que ser assim. A única motriz que poderia modificá-lo era Deus. Por isso, tudo que o sertão lhe dava, ele aceitava; tudo que lhe tirava, ele aceitava. Quando minhas irmãs venderam as carnes do corpo para nos alimentar, ele aceitou; para ele a sobrevivência vinha antes de qualquer valor ético e moral. Nas palavras dele, o sertão somente tinha um significado, sobrevivência. Aceitou a morte dos filhos como todo sertanejo, sem praguejar; aceitou a miséria como todo sertanejo, sem lamuriar. Como todo sertanejo, ele orava a Deus por dias melhores. E esperava. Ele esperou por toda uma vida, sem lamúrias, sem queixas, até o dia que minha mãe morreu. Neste dia ele deu mostras que estava cansado de esperar. Ele não esperava que ela morresse tão cedo.
Quando meu pai chegou em casa encontrou minha mãe em meus braços, morta. A tomou de mim e a colocou na cama cobrindo-a com um lençol. Foi até o alpendre, pegou a enxada e a pá, e começou a cavar no quintal. Fiz menção de ajudá-lo, mas apenas com o olhar ele negou a minha ajuda. O observei. A cada cavada ele praguejava. “Vida de chibungo”. Outra cavada. “Vida de tabaréu”. Mais uma. “Vida de bangalafumenga”. Ao terminar percebi que ele havia aberto duas covas. Após enterrar minha mãe ele foi para a roça. O segui.
Meu pai era um homem de passos calculados. Metódico, era de poucas palavras. Rude, não demonstrava sentimentos. Ouvi-lo falar era raro. Se amava ou odiava somente pelo olhar demonstrava. Apenas quem o conhecia sabia entendê-lo. Nunca o vi nervoso. Não era acometido por arroubos. Ele era o que faltava no sertão, sereno.
Neste dia o sol estava mais quente do que de costume. O calor que vinha do chão, mesmo de alparcatas, era tão forte que queimava a sola do pé e subia pelas canelas. O ar estava abafado e seco, de vez em quando o vento dava uma baforada. Na extensão do roçado, não importava para qual ponto cardeal eu olhasse, não havia uma planta verde, ou um xiquexique, sequer uma grama. A cor da terra seca, a cor do barro ressecado se misturavam com a cor da plantação queimada pelo sol. Léguas e léguas de uma imensidão acinzentada. Desterro. Nenhum ser vivo, seja vegetal ou animal. Desértico, meu pai cada vez mais se afeiçoava ao sertão. Seco, ele era o próprio sertão. Desesperado, com as mãos ele arrancava grotões de barro ressecado do chão e, praguejando aos céus, os esfarelavam. Fez isso repetidas vezes até o barro tomar a cor vermelha. Suas mãos estavam em chagas. Era fim de manhã e começo de tarde. Meu pai caiu desmaiado. Febril, não alcançou o anoitecer.
Enterrei meu pai no outro dia. Aporrinhado com o desmazelo do sertão, avexei-me em deixá-lo. Um homem sem família, não importa onde esteja, seja o lugar árido ou úmido, é um ser seco. O sertão, agora, me parecia um imenso roseiral, sem folhas, sem rosas. Arredei o pé dali um dia depois da morte dos meus pais, no pau de arara, rumo a capital. O sofrimento espinhava-me por dentro. Desse dia em diante onde quer que eu esteja seria sempre sertão. “Moço. Moço me ouve. Xiii! Acho que ele endoidou”.
Quando dei por mim o homem de gravata sedosa estava longe dando pitombas em pedregulhos. O acompanhei com meus olhos até perdê-lo de vista. Assim foi com a criança, assim foi com a mulher de branco, como fantasmas, vieram não sei de onde e foram, para onde não sei. Minha mente apoquentava. Avexado, eu fui para casa. Anoitecia, como sempre os pensamentos ruins desparafusavam meus miolos. Aperreado, dei coques na minha cachola para tangê-los de mim.
Desassossego. Vida de chibungo. Demência. Vida de chibata. Angústia. Vida de tabaréu. Amargura. Vida de badana. Desespero. Vida de bangalafumenga. Desvairo. Eu sou bangalafumenga. Diacho. Vida. Vida! Vida?
Quando cheguei em casa as puxas, as quecas, os peitos de moça, as pombas de maroto e as petas, mofadas, serviam de comida para as baratas. Mais coques na cachola e os pensamentos ruins não arredavam pé. Espichei-me e fui até a janela para espiar o anoitecer. A lua estava porreta. Debruçado sobre o peitoral da janela, a árvore do outro lado da rua, com os seus galhos fortes, me convidava para um ato insano. Coques. Coques e coques. De dentro do chão saíam os cadáveres que eu enterrei. Pai. “Vida de chibungo”. Mãe. “Raparigas, duas filhas raparigas”. A criança. “Moço, os peixes são enterrados no fundo do rio”. O homem de gravata sedosa. “Todos ser sem família é desértico”. A mulher de branco. “Cinqüenta reais a hora pelo meu tabacão”. Parem. Coques. Coques e coques. A cabeça doía. As vozes não paravam de me apoquentar. Parem! Gritei. Voltei os meus olhos para dentro da casa, as baratas tinham desistido das puxas, quecas, peitos de moça, pombas de maroto e petas. Agora elas tinham a companhia dos ratos. Estavam comendo um corpo. Aproxeguei a vista. O corpo estava morto. Estupefato, aproxeguei mais ainda.. O corpo era o meu. Coques. Coques e coques. Desesperado, eu voltei meus olhos para fora. Agora a árvore tinha apenas um galho, robusto. Embaixo dele todos os cadáveres me chamavam para um ato insano. Diacho, meus olhos foram trazidos, não sei por quem ou pelo quê, para dentro, novamente, da casa, e foram direcionados a espiar um canto específico da casa onde se encontrava o oratório. No chão, do lado esquerdo havia uma corda com o laço feito. Deu-me um nó no gorgomilo e em minha boca um gosto amargo de despedida. Avexei-me. Minha mãe não alcançou o entardecer. O meu pai o anoitecer. Daqui poucas horas o sol aproxegaria.
Diacho de vida, amanheceria como sempre amanhece, com todas as incertezas do dia.

7 comentários:

  1. OLá Éder, você tem nas veias esse manancial de justiça a escorrer pelos olhos, pela alma, pelos poros...
    "Doutores chibungos, filhos de uma quenga, se morressem e levassem consigo a ganância, com certeza não existiria tanta miséria"
    Sonho por igualdades assim, o mundo poderia ser bem melhor e mais justo...
    O problema é que hoje o ter vem sempre na frente do ser, ser melhor, ser mais humano, ser mais amigo...Um abraço na alma

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  2. Eder, quando penso que vc já havia me surpreendido o bastante... É talvez o melhor seu que já li. Num instante o devorei. Quem dera a verdade devorasse a si mesma para ser outra, para que a história dessas vidas fosse outra. Parabéns ;-)
    Bom restinho de descanso e uma semana com boas novas, saúde, paz...
    Beijos, amado amigo.

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  3. ____________________________

    Meu amigo... Vivi a sua história sentindo a dor daqueles que não tem mais esperanças... Que aceitam a vida magra e sedenta, como se fosse natural...

    Pensar que não seria assim tão difícil, resolver o problema da seca...Mas, não há interesse...

    Parabéns pela maestria do texto!

    Beijos de luz e uma semana feliz!!!

    _________________________________

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  4. Caro amigo Eder;
    Não mais direi que a última crónica foi a melhor ou foi o máximo, porque o Eder está sempre me surpreendendo...
    Esta "Crónica de Justiça" é o melhor do que tenho lido nos últimos tempos e acredite, caro amigo Eder, que leio bastante por motivo profissional e por prazer.
    Comecei intitulando este tema "Serão demente" de "Crónica de Justiça" mas depois que terminei de ler acrescentaria "e de Revolta pelas Injustiças..."

    Caro Eder, permita-me de traduzir este seu trabalho em francês e inglês e mostrá-lo a colegas meus que certamente irão ficar fascinados pela "Crónica de Justiça e de revolta pelas Injustiças..."
    Um abraço.
    Osvaldo

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  5. Éder...incorporei suas palavras e personagens, senti na pele...na alma as angústia e tantas emoções.
    Meu Deus...que poder as palavras possuem... Ou melhor que poder as suas palavras possuem.
    Parabéns por ser quem é... e por conseguir levar tantos a adentrar em suas ricas histórias!

    Um abraço carinhoso e de admiração

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  6. Retrato de um Brasil muito vivo.

    Abraço forte, Eder.
    Continuemos...

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  7. Eder, seu texto é magnífico. De um humanismo literário intenso, vívido,gotas de quem passou por ali...de quem sabe como é e onde ficam as trilhas. Emocionou -meprofundamente, literariamente um caminho profícuo a trilhar, lembrando-me a literatura de nossa alma brasileira, porque já disse o mestre Guimarães Rosa que "o sertão é o mundo", e realmente nele estamos e o habitamos. Parabéns, um grande abraço.

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