Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Você se foi


   “Meu encontro com a escrita se deu quando eu pus as histórias do meu avô no papel, de lá para cá o tempo passou. Estou no blog há três anos, e neste tempo o que me deu mais prazer foi conhecer novos escritores, e mais prazer ainda escrever histórias a quatro mãos. Dentre estes escritores está a Paula Barros, juntos escrevemos o texto abaixo. Obrigado Paula pelas suas duas belas mãos que por entre os dedos destilam poesias”.

   Meu tosco coração não bate, gesticula-se em movimentos lentos, pulsando uma dor infindável. Você foi embora, porém permanece em toda parte, nas cores da parede do quarto, no desenho da capa do sofá, nas dobraduras dos lençóis da cama. Você se foi e deixou os seus livros românticos com finais felizes, histórias que não nos pertenceram. A tua poesia escorre pelo chuveiro toda vez que eu vou tomar banho. Por que você não foi por inteira.
   Você se foi, eu não preciso do inverno para me sentir frio, a sua falta dura mais que uma estação. Estaciono na porta de entrada, gélido, com o olhar petrificado na esperança que o vento lhe traga, olho para o céu e não é estrela que vejo, a desesperança brilha no negro céu, nenhuma brisa de alento sinto. O peitoral da janela é encosto para o meu desespero e eu não consigo derramar nenhuma lágrima, acho que desaprendi a sentir assim que você se foi.
   Você não volta, essa demora me deixa atordoado. Acho algo que lhe pertencia nas gavetas dos móveis, cópias dos seus escritos estão por toda a casa, nos livros que pego para reler. Sua presença está em mim. Em todas as lembranças, nas noites inquietas, no amanhecer ao som dos pássaros, no que há de mais belo da natureza.
   Ontem, na porta de entrada encontrei uma chave caída no chão. De quem será? Qual a porta que abre? Que importa isso agora. Que diferença faz. Você soube abrir muitas portas, a principal, a do meu coração. Você se foi, agora, mais nenhuma chave abre a porta do meu coração. Nem sei se meu coração tem porta, ou é algo mais fechado, compacto, uma caixa lacrada com formato de coração presa em um cubo de gelo.  Uma vez senti meu coração saltitando dentro desta caixa por causa da melodia de algumas palavras bonitas. Suas? Não sei, precisaria muito mais do que palavras para o degelo.  Mas palavras não têm dono, pertence ao mundo, e meu coração se fechou de novo. Outra vez senti meu coração suspirando, eram uns olhos que me olharam de uma forma especial. Uns olhos que penetravam os meus. Uns  olhos que pareciam espelhos de cristal e me vi refletido. Mas os olhos ficaram e eu tive que partir. Meu coração continua fechado, deve ter uma trave que o trancou por dentro. Para abrir não sei como se processa. Nem sei se precisará de um picador de gelo. Coração só se abre por descuido. Mas se fecha também por descuido. E a sua partida foi um dos maiores descuidos que meu coração sofreu em todos esses anos. Nada, nenhuma palavra, nenhum olhar, nenhum carinho é suficiente para derreter este inverno em mim.
   Olho para o mar tentando perder meus olhos em alguma imagem para ver se me acho, vejo as ondas se arrebentarem nas pedras deixando de existir e mesmo assim continuando mar. O que eu preciso não é da sua volta, mas de um recife para me arrebentar, deixarei de ser para ser mar.

Autores: Paula Barros e Eder Ribeiro.

Imagem: clique no nome: DÉIA


10 comentários:

  1. Nossa! Triste e ao mesmo tempo maravilhosamente bem escrito, poético e lindo! Abração.

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  2. Lindo Eder. Essas 4 mãos funcionaram muito bem juntas.

    E seu avô fez algo incrível: te revelar como o escritor espetacular que és.

    Um beijo!

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  3. Quando alguém se vai uma parte de nós morre...aquela que alguém leva consigo...

    Muito poético,nostálgico...

    Beijo

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  4. soberbio texto! parabens aos meus amigos! lindissimo, fiquei emocionada!
    grandes beijos

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  5. O Eder,
    Oi Paula,

    Gostei muito desse texto poético, tem frases lindas, tem verdade.. muito sentir.

    Beijos meu

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  6. Meu amigo Eder...
    Que maravilha de texto escrito a quatro mãos, e mais que isso... a dois corações!
    Muito bonito, querido amigo.. muito bonito!
    Beijos, flores e muitos sorrisos!

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  7. Querido Eder!
    Querida Paula!

    Escrever a quatro mãos... Mãos de poeta e poetisa.
    Mãos que desenham a poesia em cada palavra. Mãos sensíveis, cujos dedos dedilham os sentimentos em sua forma mais autência e bela.

    Lindo texto!
    Dupla perfeita.
    Beijo para os dois!

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  8. Ontem olhei, tomei um susto kkk e fiquei de voltar e não voltei.

    Hoje estou aqui, lendo. Quase não sabia que trecho eu tinha escrito, você fazia propostas de escritas tão parecedidas com o meu jeito de escrever que eu me misturava na sua escrita de tal maneira que o texto passa a ser todo seu.

    Mas me achei no texto e sorri. Minhas verdades entrelaçadas nesta construção conjunta. Quatro mãos e tantos corações...

    obrigada, obrigada.

    beijo

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  9. Querida amiga

    E que este encontro
    com a escrita
    tenha sempre
    o gosto da primeira vez,
    mesmo que as palavras
    sejam tristes...


    Que os sonhos te habitem
    o coração, sempre...


    Abraço ao parceiro de letras.

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  10. Obrigado pelo apoio lá no Baú tudo esta se normalizando hoje estou conseguindo caminhar pelo blog amigos aproveitando para me aquecer nesta tarde chuvosa aqui em Tremembé bela parceria com a Paula você é uma pessoa de muito talento sensibilidade uma generosidade incrível tudo de bom em tudo e sempre!

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